17 agosto 2006

OS ÍDOLOS E O MITO - por Roberto Brandão

Mais uma colaboração do amigo Roberto Brandão...

OS ÍDOLOS E O MITO
A Fórmula 1 voltava a seu berço, no Brasil, Interlagos. Muita festa. Eu, para não ficar distante dela, mesmo morando no Rio, na Barra da Tijuca, tinha de estar presente. Desta vez, como turista em minha cidade, e com uma credencial de Paddock na mão, iria curtir a volta do GP Brasil à São Paulo. Senna já era ídolo dos brasileiros, as atenções todas voltadas para ele, pois ainda não havia vencido nenhum GP por aqui, e a festa era grande.
O principal rival, agora corria pela Ferrari. Um dilema para mim. Como torcer para o principal adversário de nosso ídolo? E, pior : eu não gostava de Prost, apesar de todas as suas conquistas, o considerava um piloto de menor expressão. Porém, todas essas dúvidas começaram a se dissipar quando estava me aproximando do templo maior do automobilismo no Brasil. Como é bom voltar para casa! E que festa!
Convidei um dos meus irmãos, aquele que, quando eu era criança (caçula e temporão), me levava a todos os jogos de futebol e a todas as corridas. É oito anos mais velho do que eu e, para sua tristeza, quando começou a me levar ao futebol para torcer para o seu São Paulo, o Santos já tinha Pelé. Eu, assistindo aos jogos a seu lado, constrangido escolhi torcer para quem sempre ganhava.
Logo depois do warm-up da manhã, as celebridades começavam a chegar. Para distrair meu irmão, que não parava de comer do excelente bufê que nos serviam, sugeri um passeio pelos boxes, ver os carros de perto. Na volta, quando os portões de visitação se fecharam, estávamos entrando para o Paddock, quando começou um alvoroço. Meu irmão, próximo de um amontoado de pessoas que já estava se formando, gritou : “Joga o boné e uma caneta, é o Pelé !” Eu, que já estava no alto da escada, obedeci-lhe e, quase me atirei dali mesmo, pois todos que estavam na escada, viraram-se e pararam, bloqueando a passagem de quem quer que fosse.
Foi aí que presenciei o mais inusitado : os pilotos, atração maior daquele espetáculo e ídolos da maioria ali, começaram a escalar o alambrado que dividia os boxes da entrada do Paddock, subindo em pneus e, literalmente, pulando a cerca para conseguir um autógrafo do maior atleta do século XX. Foi um acontecimento : exceto as duas estrelas da corrida, todos demais pilotos pularam o alambrado para falar com ele, Pelé.
Na corrida, após liderar quase todo o tempo, Senna tentou passar o retardatário Nakajima no Bico de Pato. Bateu. Prost ganhou mais uma e com a Ferrari. Meu irmão comeu tanto durante a manhã, que dormia o sono dos anjos durante a corrida.
E Pelé, mais uma vez, provara que os outros podem ser ídolos, mas ele é mito. O ídolo dos ídolos.
Roberto Brandão

2 comentários:

Anônimo disse...

Quem é rei ,não perde a .......
O Brandão escreveu uma coisa interessante sobre o Prost que me chamou a atenção.
Eu ,como bom Ferrarista tb torci o nariz quando ele foi pra Ferrari,é que o Prost foi o grande rival do Piquet e ai ficou aquela antipatia pelo Frances.
Mas não interessa que pilota ,Ferrari é Ferrari!

Jonny'O

Anônimo disse...

Máximo,

Que bom ver esta coluna inédita aqui!
Consigo me lembrar de cada detalhe da história.

É bom ter um amigo como você..