31 julho 2006

DKW 96 – UM CARRO COM ALMA - por Roberto Brandão

A história do automobilismo brasileiro foi marcada, em seus anos dourados, por muitos carros e pilotos. Identificávamos esses carros facilmente. Torcíamos, a favor, quando era um de nossos prediletos, ou contra, com todo o respeito por algum adversário.
Cita-se o número 18, e logo vem à mente a imagem da carreteira de Camilo. Falamos do número 10 e, além da camisa branca com numeral preto de Pelé, nos vem o DKW branco com um círculo preto, contendo o número 10 em branco, de Marinho. Lembramos do 22 e nos vem Bird e sua Berlineta, derrapando nas quatro. Vamos ao 2 e o Karmann-Ghia Porsche de Pace nos aparece como uma fotografia. O 7, e Émerson é lembrado, em seus vários carros. O 84 e surge Pedro Victor de Lamare. E assim vai...
Todos esses carros tinham algo especial. Algo que fazia com que a torcida o identificasse imediatamente, como seu favorito ou seu rival admirado. Esses carros tinham personalidade, que transcendiam o fato de estarem sendo pilotados por um grande cara, um sujeito que respeitávamos. Tinham Alma! Esses carros traziam público, tinham torcida. Nosso 96 também possui alma. Tem elegância : branco, limpo, com discretas faixas que levam as cores de nossa bandeira. Tem personalidade : insiste em correr com seu velho e fraco motor contra competidores mais fortes. Tem caráter : briga forte com os valentões na curva. Tem dignidade : mantém-se original e fiel à sua concepção. Tem garra : resiste a várias corridas, valentemente disputadas sem requerer muita manutenção.
Como seus contemporâneos, transformou-se num mito, num símbolo. Insistiu, pacientemente, por vários anos, até que conquistou a todos. Adversários, amigos, fãs, todos o admiravam quando desfilava seu belo ronco pelas retas de Interlagos.
E perpetrou o milagre que só os ungidos conseguem : contra tudo e todos, trouxe os fiéis de volta ao templo sagrado. E conquistou novos seguidores que, mordidos pelo bichinho da velocidade, formaram uma comunidade familiar, travando amizades, trocando idéias, conhecendo-se e se aproximando, num mundo tão carente de relacionamento.
É, nosso 96, como os seus contemporâneos você não só fez história. Você é historia. Merecia ser o carro inaugural de um museu da velocidade que homenageasse a você e seus parceiros. Quarenta anos depois, você marcou jovens corações, que nem sabiam que você algum dia existira.
No dia maior de sua glória, quando você seria a grande estrela, com uma torcida que se contaria aos milhares, num espetáculo com coadjuvantes tão nobres como Ferraris, Maserattis e Porsches, discretamente seu coração parou de bater, para que você não ofuscasse os demais. Você estará presente nas faixas estendidas por todo o autódromo, na estampa do convite para a corrida e nos corações de milhares. Cumpriste sua missão!
A mim, só resta guardar, com muito carinho, o convite destes fatídicos 500 km. Você, na foto que estampa o convite, ferido da batalha, com roda e pneu improvisado, e as laterais remendadas, levando seu piloto ao pódio.
Essa foto, esse convite, revelam sua alma. Obrigado 96!

Um comentário:

Anônimo disse...

O que dizer do Brandão, a não ser amém!